A Tábua de Esmeralda - Jorge Ben Jor e a Contracultura

 

Por Júnior Vianna

 

        Reservei esse pequeno espaço para abordar um tema que interessa a qualquer estudante das chamadas Ciências Ocultas. Falarei um pouco (sem querer dar uma grande base sobre o assunto) sobre a Tábua de Esmeralda, texto esse onde se apóia grande parte do esoterismo Ocidental. Também falarei sobre o contexto da música (que está no vídeo anexo) composta por Jorge Ben Jor na década de 70.

 

        Bem, o famoso texto atribuído ao sábio Hermes (correlacionado ao deus Thor) remonta a eras passadas e não se sabe ao certo a sua origem. Há os que advogam que Hermes Tri foi apenas um ser mítico criado pelos iniciados para expressarem seus conhecimentos, outros afirmam ter tido ele existência real e ser um faraó. Sua existência material ou imaginária não tem muita relevância ao que me proponho modestamente aqui, mas sim a influência que teve esse pequeno texto na busca espiritual de muitos homens do planeta.

        A idéia básica onde repousa o Hermetismo é a analogia entre todas as coisas criadas. Entre o mundo e homem, entre o homem (microcosmo) e Deus (macrocosmo). Também defende que todo o mundo é regido pela Trindade e pelo número 3 (daí a idéia de Hermes Tri). Uma frase bem conhecida dentro do mundo hermético é a seguinte: "O que está em cima é como o que está embaixo, paracumprir os milagres de uma coisa só", onde o iniciado deve se debruçar em estudo para retirar o sentido e o valor espiritual de tal sentença. A Tábua de Esmeralda é a base teórica, por assim dizer, da Alquimia, de algumas vertentes da Magia, da Astrologia, da Cabala (que existia antes mesmo de se popularizar com os Judeus) e de muito mais no que se diz respeito ao esoterismo.

        Sempre houve os que estudaram seriamente os textos herméticos, mas, durante a Idade Média, por exemplo, a perseguição contra os "hereges" era feita de forma sistemática pela Igreja Católica Romana. Isso obrigou os filósofos herméticos a se esquivarem ainda mais na sombra da espiritualidade medieval, transmitindo em segredo seus ensinamentos. Na renascença as coisas começam a mudar, temos em Paracelso um dos mais conhecidos nomes da Alquimia Moderna.

        Hoje existe um novo interesse nos estudos da sabedoria Hermética(e outras novas formas de busca espiritual também). Grupos neo-pagãos e Sociedades Secretas (algumas de caráter duvidoso) se apegam a ele em busca de uma espiritualidade alternativa, fora das instituições religiosas formais que dominaram (e ainda dominam em certo ponto) por tanto tempo a mentalidade religiosa ocidental. Se esse novo interesse é devido ao Novo Aéon de Aquarius, não posso afirmar com certeza, mas profecias indicavam um despertar espiritual em nossa Era.

        A Wicca (que é na verdade nada mais é do que uma releitura moderna de antigas tradições do paganismo e da bruxaria) também tem em Hermes profunda inspiração. A Ordem ocultista Golden Down (Aurora Dourada), da qual Aleister Crowley foi membro, também era uma ordem Hermética e foi uma das mais influentes do mundo.

        Nos finais dos anos sessenta e início dos anos setenta do século XX teve lugar , como sabemos, os famosos movimentos de contracultura. A juventude, insatisfeita com o modelo de sociedade na qual estavam vivendo, buscou, entre outros diversos pontos que julgavam importantes, reviver e revalorizar as tradições religiosas que antecedem ao próprio cristianismo e que foram marginalizadas pelo clero dominante. O Xamanismo indígena americano, idéias e diversas práticas oriundas do Hinduísmo, o uso de drogas alucinógenas como forma de transe espiritual, o interesse por Alquimia e Astrologia, o culto do sexo no Tântrismo, entre outras diversas formas de questionamento dos valores morais e religiosos que ainda nos permeiam.

           No Brasil, alguns de nossos grandes artistas da música sofreram essa influência tsunâmica da contracultura. Temos em Raul Seixas a figura que sintetiza bem o espírito rebelde e inconformista da época e que é hoje um marco na história do Rock Nacional. Teve ao seu lado o hoje mundialmente conhecido escritor Paulo Coelho (indico como leitura o livro/tese de Luiz Lima Boscatto sobre a contracultura, que gira em torno da obra do roqueiro brasileiro: https://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=9023318&sid=20024502410123464429356860&k5=3A18F214&uid.)

Mas diversos outros tiveram influências dessa natureza em seus trabalhos. Jorge Ben Jor (ou Jorge Ben) foi um deles, e é dele a música sobre qual editei o vídeo acima. Ela é parte do álbum "A Tábua de Esmeralda", lançado em 1974, que entre outros sucessos conta com: Os Alquimistas estão chegando e o Homem da gravata florida (alusão a famosa gravata de Paracelso).

        Diz Ben Jor um vez: "Tenho muito respeito e admiração pelo trabalho de um alquimista, pois ele dedica toda a sua vida a estudar e procurar com uma fé e perseverança não comparável a coisa alguma. Desde o LP As Rosas Eram Todas Amarelas já há o reflexo do estudo e da tentativa de aplicar tudo isto à minha música. Pessoalmente houve uma grande mudança em minha vida e eu me sinto profundamente satisfeito comigo mesmo. Os textos alquímicos são complicadíssimos, mas eu os vou interpretando de acordo com a minha compreensão, sentimento e bem estar.” Mostra aqui um exemplo da universalidade dos temas abordados pela arte Alquímica, homens de todas as épocas se sentem atraídos por ela.

        Acho que o que podemos retirar de útil desse texto que escrevi (se é que há algo útil) é isso: Mesmo que os detentores do poder secular/religioso, durante os séculos passados, décadas passadas, e atualmente também, busquem ofuscar o desejo na alma dos verdadeiros buscadores, nada poderão fazer se o homem não se calar diante da limitação e da estupidez imposta por eles. Muitos pagaram com a própria vida o direito de discordar e viverem seus desejos, mas como diz Eliphas Levi (ou Stanilas de Guaita, não lembro bem qual deles): “Aquele que morre pelo que crê ser a verdade é um herói, mesmo quando se engana”. E é nisso que devemos depositar nossas vidas, ao menos, penso eu da minha vida.