Peleja de Nossa Senhora com iemanjá - Parte I

Uma peleja de dá medo eu vi

No céu se formar!

Lá estava Nossa Senhora

E também Iemanjá.

Nas nuvens escuras eu vi Gabriel,

E também a um Orixá,

Os dois cuspindo fogo

Para o tempo acalmar.

 

Nossa senhora com seu terço

Brilhante de cristal

Fazia pirraça e murmurava olhando

Para o mar de sal,

Que é a casa de Iemanjá

E seu jardim de oferendas,

Onde as águas se afogam

E o pescador faz sua tenda.
 

 

 

 

Peleja de Nossa Senhora com Iemanjá- Parte II

 Jesus Cristo, abobalhado,

Disse com tamanha admiração:

“Mas como pode duas senhoras

Em tamanha confusão?”

O Diabo, que por ali andava,

Riu-se todo mangando de Jesus:

“Eta cabra! Que confusão dos diabos

Foi tu arrumar!

Lá no inferno eu não tenho com o que

Me preocupar.

Cada um faz o que quer

E eu não dou palpite não!

Que se danem elas que

Querem te lascar.

Eu não quero é confusão.”

 

 

E Xangô, debruçado numa nuvem,

Olhava enciumado para o trono

Do menino Jesus,

Onde se apunhava um monte

De almofadas de nuvens pro seu sono,

Decidiu então aproveitar o rebuliço

Para ali tirar um bom cochilo

E sentir o gosto que é ser dos deuses

O maior, mesmo que ainda menino.
 

 

 

 

Peleja de Nossa Senhora e Iemanjá- Parte III

Mas num é que um cálice de vinho veio “vuano”

Parar na cabeça de Xangô!

Ai ele então se enraiveceu todo, como um doido varrido

Então se levantou.

“Porra! Mas é possível que nem aqui posso eu

Uma soneca tirar?

Se o céu que ó céu anda nesse alvoroço todo, vixi nossa!

Que merda dirá de quem lá

Para baixo tem que voltar?”

 

As flores de Iemanjá murcharam

Sem uma gota d água,

Enquanto a túnica de Nossa Senhora,

Em labaredas, causavam espanto.

 

Então os anjos querubins, pelados,

Envergonhados e com medo,

Foram ter rápido com Jeová,

Para de uma vez por todas o seu desejo falar.

 

Jeová veio meio amuado e com uma cara de sono,

Irritado foi com elas ter.

Raiou com elas como os raios de São Pedro

E não pode nada daquilo entender.

“Que que se passa entre essas duas desvairadas

Para essa zona aqui fazer?

Zeus deve de ta já me esperando para o vinho!

Vamos então logo isso resolver.”
 

 

 

 

 

Peleja de Nossa Senhora e Iemanjá- Parte IV

Nossa Senhora disse então:

“Oh! meu patrão! “Essasinha” diz ser dona do mar,

Das praias e do céu!

Que viera pelas águas e quer que para ela

Eu tire o chapéu!”

 

Diz então Iemanjá:

 

“Meu Santo Rei, sabe tu que eu não faço isso não.

É invenção desse estrupício.

Diz ela minha glória ser menor

Desde o principio.”

 

Jeová: “Não posso eu acreditar em tamanha putaria.

Sabe tu, Maria, sabe tu Iemanjá, que sou eu quem escolhe quem de minhas coisas vão cuidar.

Pelejam por uma coisa que a vocês não pertence,

Mas se querem mesmo um presente vou dá.

Fica tu mesma Iemanjá como Rainha das Águas,

Fica tu Maria como Rainha dos Céus.

Mas saibam que tudo que vocês têm são domínios meus.

E nem mesmo por uso capião posso eu deles abrir mão,

Nem mesmo pela fé duns “fi dumas égua” ateus.

 

Mas agora, deixe de me atazanar um pouco

E arredem os pés daqui.

Vá ligeiro antes que eu não me agüente

E ponha em vocês duas um fim.

 

Pois pra mulher enciumada

Ainda não inventei remédio,

E, se quero ser ainda Deus,

Isso não pode ficar assim não.

Daqui a pouco o meu trono

Padece, e então vocês?

Vocês me cornearão,

Mas só aviso duma coisa:

Pra corno eu não tenho vocação “