O Desenvolvimento do Conceito de Cultura
Amanda Muniz Oliveira*
Introdução
Desde a antigüidade, tem-se tentado explicar as diferenças de comportamento entre os homens de diversas formas. No entanto, o meio cultural onde cada indivíduo se encontra é crucial para seu desenvolvimento como pessoa. Através desta pesquisa, procura-se demonstrar diversos conceitos de cultura, alguns adequados e coerentes com a nossa realidade, outros um tanto etnocêntricos e evolucionistas, bem como a influência do meio cultural sobre o indivíduo que nele vive.
O primeiro conceito de cultura
Edward Tylor formulou o primeiro conceito de cultura do ponto de vista antropológico. Para Tylor, a cultura é um fenômeno natural, o que permite a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução. A diversidade cultural é explicada como uma desigualdade de estágios existentes no processo de evolução, uma visão etnocêntrica da cultura.
Diversidade Cultural e Evolucionismo
A desigualdade cultural é explicada por Tylor como o resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. A antropologia, então, deveria estabelecer qual meio cultural se mostrava mais desenvolvido, sendo que as nações européias se mostrariam extremamente evoluídas enquanto as tribos selvagens seriam caracterizadas como subdesenvolvidas. Através do pressuposto evolucionista, as culturas mais antigas são desvalorizadas e as mais modernas consideradas melhores, o que é um erro, pois cada sociedade se desenvolve dentro do seu contexto histórico pleno.
O orgânico e o cultural
Alfred Kroeber, antropólogo americano, procura demonstrar a importância da cultura para diferenciação entre humanos e animais. Contrariando o senso-comum, Kroeber afirma que a herança genética nada tem haver com as suas ações e pensamentos, pois suas atitudes dependem da forma como se deu o aprendizado. Assim sendo, mais que o fator biológico, o fator cultural exerce influência na formação do indivíduo como ser humano.
As descobertas revolucionárias e as condições para que ocorram
O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Segundo Kroeber, todo processo de aprendizado é repassado aos nossos descendentes. Assim sendo, as descobertas realizadas por grandes cientistas não são de autoria única e exclusiva destes, e sim também de todos aqueles que fizeram descobertas aparentemente insignificantes mas que de total relevância para uma invenção magnânima. Jamais haveria carros se um primeiro ser humano não houvesse inventado a roda. Além disso, os indivíduos altamente inteligentes nada são se não existirem condições para que sua criatividade seja exercida de forma revolucionária.
Os instintos humanos e o desenvolvimento da cultura
Apesar de nem todos os instintos humanos serem suprimidos pelo desenvolvimento da cultura, o comportamento do indivíduo se baseia muito mais no que ele aprendeu dentro da sociedade do que em qualquer instinto biológico. É preciso superar a idéia de que o homem é movido por instintos, sejam eles maternais, filiais ou sexuais, pois estes chamados “instintos” nada mais são do que padrões culturais que podem variar de uma sociedade para outra.
A cultura como um processo acumulativo
Uma das diferenças primordiais entre o homem e os demais animais é a capacidade de transmissão do conhecimento aos demais descendentes. O ser humano é capaz de repassar aos seus semelhantes suas próprias descobertas acumuladas ao longo de sua existência, bem como as descobertas de seus antepassados que lhe foram transmitidas da mesma forma. A espécie humana é capaz de repassar o conhecimento acumulado pela cultura em que vive, seja através da fala, da escrita, da arte ou da música. No mundo animal, todo saber adquirido por um ser se perde juntamente com ele após sua morte, ao passo que na sociedade humana o conhecimento transcende a morte do indivíduo.
Referências Bibliográficas:
LARAIA, Roque de Barros: O desenvolvimento do conceito de cultura. IN: ____ Cultura: um conceito antropológico. 20 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 30-52.
MELO, Luiz Gonzaga de: Evolucionismo cultural. IN:___ Antropologia cultural. 7. ed. São Paulo: Vozes, 2000, p. 199-220.
SHAPIRO, Harry L.: Reformulação de traços emprestados. IN___ Homem, cultura e sociedade. 1. ed. São Paulo: Fundo de cultura, 1966, p. 232-234.
*Graduanda do curso de Direito das Faculdades Santo Agostinho.